Há 13 anos, Mauricio Moreira publicava: D. Ivanilda Calheiro, heroína do quotidiano

Num artigo publicado no jornal Extra Alagoas, há 13 anos, mais precisamente no dia 3 de março de 2008, o empresário Maurício Moreira descrevia na ocasião, todo um perfil de dona Ivanilda Calheiros, ela que nesta quinta-feira, 11, falecera aos 87 anos, na cidade de Murici/AL, em decorrência de uma infecção abdominal aguda. 

Ivanilda era a matriarca da família Calheiro; mãe do senador Renan, dos deputados Olavo (estadual por Alagoas) e Renildo (esse federal por Pernambuco) além de Remi ex-prefeito e atual vice de Murici, Robson, Rosa, Rosângela e Rachel. E os netos, Renan Filho atual governador de  Alagoas e Olavo Neto, atual prefeito de Murici.  Era esposa do saudoso Major Olavo, que foi prefeito de Murici.

 

Dona Ivanilda aparece nessa foto ladeada dos netos e bisnetos, cuja publicação foi feita nesta quinta-feira nas redes sociais pelo governador Renan Filho e seu primo, Olavo Neto prefeito de Murici 

Acompanhe na íntegra o texto abaixo:

Por Maurício Moreira

Conheci-a há muito tempo. Na sua fisionomia eram bastante evidentes os traços da bondade e da grandeza de caráter. Muitas vezes, as pessoas pensam que grandes são aqueles que vencem uma guerra, ou realizam feitos extraordinários, mas, na maioria das vezes, os grandes homens e as grandes mulheres são os heróis do quotidiano.

Essas pessoas já nascem com uma estrutura genética, onde já se encontram o caráter e os traços que lhe dão coerência e dignidade, tão raras nos tempos atuais. Tais características conferem a essas pessoas privilegiadas a dignidade e a coerência necessária para suportar, com naturalidade e resignação, as provações que, por acaso, encontram no caminho que escolheu para palmilhar. D. Ivanilda, com certeza, foi, e é na lembrança dos que a conheceram, uma dessas pessoas.

Professora por vocação casou muito cedo com um homem que pautou a sua vida – e mostrou na prática – pela dignidade e por uma grande firmeza de caráter, e coragem, frente às adversidades. Seu pai, de quem ficou órfão aos 12 anos, era proprietário de uma destilaria de cachaça, a maior de Capela – minha cidade de origem -, era um homem, como se diz no interior, ‘muito bem de vida’.

Uma reflexão de Fernando Pessoa nos remete ao que representa, para mim, a vida de D. Ivanilda: “O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” Deste modo, Fernando Pessoa definiu, com o dom que só os grandes poetas possuem, imprime o significado da passagem de D. Ivanilda pelas afortunadas vidas das pessoas que a conheceram.

Lembro-me da sua dedicação ao major Olavo e aos seus filhos, cujo amor materno eu sentia estender-se à minha pessoa, a ponto de me sentir como um filho seu. Um de seus filhos, o Renildo – está no Recife há muitos anos – é um dos meus grandes amigos.

Lembro-me de que o Zé Cláudio da Capela/AL costumava dizer que ela se parecia muito com a minha avó Alcides, e eu concordo com ele, reconhecendo, no entanto, que a semelhança não era só física, mas, e principalmente, no que diz respeito à bondade, espiritualidade e à grandeza de caráter.

Lembro-me do seu desvelo e do carinho com que tratava até os bichos que criava; lembro-me, também, que muitas vezes ela saía para fazer a feira da família e chegava a casa com as mãos vazias, porque, pelo caminho, as pessoas necessitadas iam pedindo, e ela, numa sinfonia já natural na sua vida, ia atendendo às necessidades dos menos aquinhoados. E o major Olavo, novamente, tinha que voltar à feira fazer novas provisões. Eu a via, no dia-a-dia, na cozinha, preparando com prazer almoço para muitas pessoas – a sua casa estava sempre cheia – numa atitude de amor aos que a cercavam.

Era, sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais bonitas que conheci. D. Ivanilda era, pois, uma pessoa em quem a unanimidade reconhecia muitos reflexos de bondade e de amor. Por destino, essa admirável pessoa foi minha sogra, digo foi, porque hoje estou separado da sua filha.

No extremo oposto a toda essa bondade estão àquelas pessoas que já nasceram com o código genético estruturado para atrapalhar e infernizar, inclusive atingindo pessoas inocentes, muitas vezes para esconderem suas maldades. Para isso, tornam-se verdadeiros atores ou atrizes, usando mil máscaras para esconderem seus rastros de maldade. Então, pessoas como D. Ivanilda, nascem para suavizar e mudar, espontaneamente, naturalmente, a vida das pessoas e ajudá-las a superar os males que lhes são infligidos pelos que não têm escrúpulos na prática de suas maldades.

Essas pessoas tornam o caminho dos seus semelhantes, nessa passagem pela terra, bem mais leve. Está provado que, mediante o tempo, a história põe as coisas no seu devido lugar, fazendo-nos adquirir a certeza de que pessoas como D. Ivanilda são verdadeiras heroínas do quotidiano.

Termino o meu artigo, plagiando o ‘Velho Menestrel das Alagoas’, que, ao concluir uma belíssima crônica que dedicou ao meu pai, afirmou, referindo-se a ele, que a firmeza de caráter e de propósito – que também são características de D. Ivanilda – significa “o que há de mais respeitável na humana gente”.

 

 

 

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